sábado, 2 de abril de 2011

Exclusivo: o Bastão do poder

Por Achel Tinoco*


Com a ascensão de Lula, surgiram, e ainda surgirão, muitos governantes à sombra dele: discípulos, seguidores, até mesmo oportunistas e aproveitadores, com o discurso pronto do coitadinho, pobrezinho; o que veio do nada, da terra seca, para ser pai dos pobres, irmão, primo, galgar as escadas do poder, realizar feitos extraordinários e inebriar o povo. Por essa mesma estrada, chegou Jaques Wagner e assumiu o governo da Bahia, legitimamente — é bom que se diga —, pelo voto popular, ou seja, do povo. Com João Henrique aconteceu diferente: ele era contra tudo e lutava por todos. Jovem e determinado, era o paladino da justiça e iria apresentar ao mundo um modelo novo de administração capaz de eternizá-lo no poder, como todos pensam lá no fundo... Ao longo do tempo, apresentou-nos tão somente sua falta de carisma e competência para dirigir uma cidade complexa do porte de Salvador.
      Um líder, necessariamente, não tem que vir das universidades, dos meios acadêmicos, nem das classes abastadas. Não. Mas se faz necessário, com certeza, o conhecimento, para serem tomadas as decisões e as providências, de modo que a democracia — palavra tão em voga — seja exercida amplamente a bem das necessidades e aspirações do cidadão. Com a ascensão de Lula, repito, desfez-se esta obrigatoriedade, ou melhor, esta prioridade do saber. Todos os brasileiros agora se consideram iguais perante o poder. Enganam-se. Esse bastão não chegará nunca às mãos de todos, muito menos àqueles que sequer sabem apor o dedão na almofada de carimbo para sugerir o próprio nome. Se, por um lado, a população teve a autoestima elevada, por outro, derrubou a realidade da vida.
     Observamos que, para o cargo de gari de qualquer prefeitura, exige-se, no mínimo, o segundo grau completo; para o cargo de doméstica, em todo lar brasileiro, exige-se a ficha de bons antecedentes, ler e escrever corretamente, além de portar-se com um mínimo de traquejo. Para prefeito, governador, presidente, exige-se nada, apenas que tenham elevado carisma, graça, dissimulação, apadrinhamento e retórica. Deste modo, impelem-nos a perder a iniciativa de estudar, a sede do saber, a vontade de crescer intelectualmente, aja vista que, os de lá de cima pouco sabiam, ou não quiseram saber, quando ao alto da tribuna chegaram. Agora, são formadores de opinião: detestam intelectuais, detestam quem se esmera, detestam quem acredita na educação, ainda que alguns deles saibam que um país não se desenvolve se não investe, sobretudo, na educação. A educação como base, lastro, alicerce, polimento, acabamento, pintura. Os nossos políticos têm plena consciência disso, claro que têm, apenas não se manifestam com mais contundência para não desobstruir os ouvidos do povo que eles julgam adestrado, e porque sabem que o povo atrasado culturalmente rende-lhes muito mais dividendos políticos.
      A cultura, na Bahia, por exemplo, anda, vagarosamente, na corda bamba dos berimbaus e atrás dos trios elétricos particulares, sob a batuta velha de Gil e Caetano Veloso, remanescentes da Tropicália revolucionária e do Axé ditatorial. Esta cultura, acomodada nas lembranças, já não exalta os artistas de rua, o candomblé, o samba de roda, os blocos afros, os terreiros, os escultores, os pintores, os trovadores, os escritores. Chega claudicante aos lares, como uma jovem esmoler. Sequer poderá entrar, toda a gente está á frente da TV assistindo a uma partida de futebol.
      Resta-nos a esperança. A minha, no entanto, já se foi, faz tempo.

*Achel Tinoco é Escritor, nasceu em São Domingos do Capim, no Estado do Pará.
Cursou Letras e Administração de Empresas. Atualmente, reside em Salvador, capital do Estado da Bahia.

Livros publicados: Outra parte de mim, Okavango, Vilarejo dos anjos, Retrato sobre tela, Até parece que foi sonho, As nudezas secretas de Eleonora e Perdendo a metade de mim

Nenhum comentário: